segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sobre Segredos e Intensidade. Um Conto Sob a Lua

No último sábado (05/05), a lua esteve mais cheia do que esteve nos últimos tempos. Pensando nisso, escrevi um conto para os desocupados de plantão que, assim como eu, sempre prestam atenção na lua.

Sobre Segredos e Intensidade. Um Conto Sob a Lua Cheia.

Era uma vez dois amigos, que numa madrugada inoportuna de outono, conversavam...

Ela -"Cara, a lua tá mega redonda hoje!"
Ele - "Oras, a páscoa sempre é na lua cheia."

Ela -"Oi?!"

Ele - "É. Eu li no google."

Ela - "E porque cargas d'água você procurou que lua aparece no céu na páscoa?!"

Ele - "Não procurei isso. Procurei como se chegava à data do carnaval. A páscoa sempre é na primeira sexta de lua cheia após o dia 23 de março, e o carnaval é sempre 40 dias antes da páscoa. Daí a conta."

Ela não diz nada por alguns momentos, simplesmente olha pra ele com os olhos grandes e surpresos, e dá um meio sorriso.

Ela – “Ok, isso é muuuito legal!”

Ele sorri, o que ele não sabe é como ela tem uma relação especial com o dia 23 de março, por razões de crença e história de vida. E que talvez tenha mudado um pouco a forma com que ela vê essa história toda.

Ele - "Eu quero beijar você."

Ela sorri primeiro, depois gargalha. Uma gargalhada que enche os ouvidos e faz qualquer pessoa querer gargalhar também. E diz: " Você ficou doido?! A essa hora, você acha mesmo que vai me jogar essa
conversa?!" Mais gargalhadas "Você não acha que já beijou o suficiente?!
Você beijou praticamente todas as minhas amigas?!"

Ele - "Todas?!  Você tá viajando?! Beijei algumas, eu admito. Mas quase todas é exagero."

Ela - "Então pára e pensa. Faz aí a conta! Pensa no meu grupo de amigas mais próximas e depois se dê conta de quantas você já beijou?!"

Ele pára de falar e pensa por um momento. Ela continua o encarando, segurando o riso. Por fim ele gargalha também, e diz: " É. Você tem razão."

Ela volta a contemplar a lua. "Você é um cara legal sabe?! E atraente. Eu ficaria com você numa boa se não fosse isso. Mulheres falam, sabia?! Ás vezes até mais do que homens. Eu não gosto disso. Minha vida é muito minha para que as pessoas fiquem sabendo assim... Você alguma vez já me viu ou ouviu falar de que eu estava com alguém?!"

Ele - "Teve aquele cara. O..."

Ela interrompe: "Sim teve ele. Mas ele foi diferente..."

Ele - "Diferente?! Como assim?! Vocês ficaram de novo depois daquele dia?!"

Ela ri. "Ficamos quase um ano indo e voltando depois daquela ocasião."

Ele fica calado por um momento. Ela começa a ficar ansiosa, ele não sabe o quanto o silêncio a deixa aflita.  Ele recomeça: "É. Acho q você é discreta mesmo."

Ela ri de novo. Ele pensa que ela ri demais, que não o leva à sério. Ela começa a considerar. Nunca o tinha visto dessa forma, mas até então nunca tinha estado tão sozinha com ele, nunca tinha pensado na possibilidade. Mas agora com ele ali, tão perto, parecendo tão íntimo, tão natural. Com o timbre da voz dele reverberando em seus ouvidos. Simplesmente pareceu certo. Lhe pareceu que combinavam... Por fim resolveu. O beijaria. Mas ele teria que tentar de novo. E não, não seria fácil.

Ela - " Você diz que quer me beijar, mas você não quer."

Ele - "Agora você sabe o q eu quero ou deixo de querer?!"  

Ela - "Entenda, estamos em fases diferentes da vida. Eu quero um namorado, um cara pra amar sabe?! Eu quero me apaixonar e ficar sério. Não é isso que você procura, ou é?!"


Pronto. Era isso. Depois dessa se ele não desistisse ela tinha que bater palmas para sua cara-de-pau. Ela falou o que homem nenhum quer ouvir. Tudo que tinha acabado de dizer nunca lhe tinha falhado na hora de espantar um homem. Nem era verdade isso tudo. Nos últimos tempos ela estava muito interessada em viver o que viesse, com compromisso ou não. Com muito amor ou só por prazer mesmo. Mas ela queria, tinha que testar. Ver até que ponto ele iria na empreitada. Afinal de contas pra ela sempre foi muito mais divertido esse jogo de gato e rato do que entregar tudo de bandeja. Pra ela essa sempre foi a parte mais interessante. O tirar com uma mão e dar com a outra. Então, a sorte estava lançada. Depois de tais declarações era tudo ou nada. E ela estava adorando a adrenalina.

Ele - " Ah sim, entendo você. Mas eu prefiro manter a cabeça aberta... Quem sabe?!"

Ela solta uma de suas melhores gargalhadas, aquelas altas, que a essa hora bem poderia acordar um vizinho ou outro. Ele tinha dado a melhor resposta que ela podia esperar. Evasivo na medida certa. E foi nesse momento que ela se viu entregue, considerando que seria apenas uma questão de tempo.

Ficam em silêncio um pouco mais, avaliando um ao outro. Ele tinha claro na cabeça que ela não teria permanecido ali, sorrindo tantas vezes se não quisesse o que insistia não querer. Tomou uma decisão. Tentaria de novo, e continuaria tentando até que ela cedesse ou se cansasse e fosse embora. Era isso, seria naquela hora, e em mais várias outras horas se ela resistisse.
Ele se inclinou, e... Ela não resistiu. Beijou-a. Ou melhor, beijaram-se.
Nenhum dois dois esperava a receptividade dela, ou mesmo a habilidade dele. E era aquilo. Sob uma lua muito cheia que por pouco já não dava lugar ao sol os dois se deixavam levar. E foi o que tinha que ser. Aconteceu porque tinha que ter acontecido, e os dois, numa promessa silenciosa e mútua, concordaram que manteriam tudo entre eles, em nome de um futuro de incertezas e muita, mas muita intensidade.

Fernanda Corôa

@fernandacoroa

4 comentários:

  1. Meu Deus amiga! Onde estava esse taleto esse tempo todo? Pode tratando de escrever mais contos! Estou ansiosa, ele liga depois?

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  2. Fernanda é nossa artista, você tinha dúvidas?
    E você é quem vai escrever coisas cultas! rs
    Eu sou o besteirol! =P

    Karen

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  3. "Ele liga depois" é ótimo!!

    A graça é não saber Glenda!!
    Deixo por conta dos leitores, q terminem a história...
    Ele pode ser um príncipe... ou um belo fdp!
    hahahahah

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  4. concordo com a Glenda! Onde estava esse talento todo que não já escrevendo contos há tempos???

    Muito bom! Real, leve, atual, e autobiográfico? pode ser que não, mas poderia ser! quem nunca passou por um momento assim!

    Adoro ler contos, e adorei ler o seu primeiro! Pelo menos o primeiro que eu leio!

    Escreva mais, Fê!

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